Samuel
estava sentado lá naquele monte de folha molhada, as mãos na boca e fazendo
careta para o vira-lata a sua frente. Estava eu em um sítio com minha mãe,
minha vó, minha tia e meu irmão. O local era uma antiga fazenda, que há muito
tempo era um grande comércio da região. Hoje ela tem o seu valor histórico, uma
balada no porão de um casarão, uma casa reformando do tamanho de um hotel, um
cemitério de cavalos, uma roda enorme de engenho e uma família morando ali.
Essa
família é a de Samuel, o garoto de três (ou quatro?) anos que corre descalço
nas pedras e cai, aí ele levanta e continua a correr. A primeira vista pensei
que ele iria ficar calado olhando para todos nós com vergonha. Sabe aquele
clichê de menino da roça? Samuel cabe a eles, menos a parte da timidez. Tem os
pés vermelhos de poeira, a unha suja de terra, as bochechas vermelhas, o
sorriso inocente e a calça arrastada no chão.
Conversando
com o pequeno, descubro que é mais que um menino, é corajoso, adora cavalo,
enfrenta os bois e já tem cicatrizes. Nos braços marcas de queimadura, segundo
a mãe, ele foi pegar o leite quente e entornou no corpo. Possui uma cicatriz
que vai do peito esquerdo até a barriga,
resultado de um tombo em cima do arame farpado. Tudo isso com apenas poucos
anos de idade e uma vontade imensa de não ficar parado.
O
espoleta o tempo todo corria entre a gente, falava da sua maneira e tentava
explicar o que queria dizer. Perguntamos se ele queria ir para a cidade
conosco, com uma balançada de cabeça foi definitivo e entendi que ali é o lugar
dele.
Samuel
vive feliz ali, sem medo dos cavalos, das galinhas, dos gatos, do rottweiler
preso na corrente e de qualquer pessoa. Queria que muitas pessoas que eu
conheço fossem assim, felizes de natureza, felizes por estarem em seus devidos
lugares. Samuel ainda não se perguntou se é feliz ou se questionou sobre quem
ele é.
O dia em que ele fizer isto, deixará de ser feliz, na certa.
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