Lana Del Rey
Born to Die (2012)
- Eu sempre imaginei
que ela um dia iria me ligar, sabe, aqueles clichês de filme de romance. Mas
nunca ligou, só a polícia. Meu número era o único que ela tinha no celular.
Apertou o joelho esquerdo com a mão, ficou olhando para o carpete da sala da terapeuta. Ela com a cabeça imóvel, tombada um pouco para a direita, uma expressão tão característica da profissão que ele não tinha percebido nas outras sessões que:
Apertou o joelho esquerdo com a mão, ficou olhando para o carpete da sala da terapeuta. Ela com a cabeça imóvel, tombada um pouco para a direita, uma expressão tão característica da profissão que ele não tinha percebido nas outras sessões que:
Ela sempre fazia
a mesma cara.
Dependendo do
assunto, a cabeça ficava em uma situação de quase noventa graus com o pescoço.
Desde o dia em que
recebera a ligação, o coração não parava de palpitar. A semana fria após o
acontecimento, o reencontro com os familiares e todas as perguntas que não
paravam de surgir, o sufocou. Sem ar, sem algum lugar sequer onde os olhos e
ouvidos o perseguiam, ele teve uma crise
de pânico.
- Hoje faz um mês.
Desde a ligação.
As palavras ecoavam
pela sala. Teria sido uma boa ideia ter procurado ajuda? Certamente não,
precisava contar sobre o que acontecera com sua noiva. Mesmo que ela tinha
sumido por dois meses e meio, e quando soube de notícias, foi de um acidente
com um chevette amarelo.
- Eu já estava pensando
em desistir de procura-la. Débora nunca foi uma pessoa fácil, e eu realmente
não estava entendendo o que ela estava passando. E acho que nunca vou entender.
Foi uma quarta-feira, daquelas
onde o sol deixa as cabeças quentes e o bom humor de alguns irrita outros. Ele
estava trabalhando, tinha sido um dia comum, a mulher do RH comentou no café
que haveria um aumento, o seu computador tinha parado de travar. E assim seu
telefone tocou. E soube de Débora, em um acidente em uma rodovia, um chevette
destruído e um homem que ele já conhecia.
- Eles não se
conheciam. Mas foi apenas um encontro e ele tomou a sua cabeça. Ele tinha um
poder sobre ela, sabe? Eu nunca a tinha visto daquele jeito, foi no último dia
em que ela estava lá em casa. Eu vi no olhar dela que, sabe quando a pessoa não
está ali? Se eu fosse cristão diria que ela estava com o demônio no corpo.
Seus cabelos ruivos
tinham saído da casa decididos em não voltar, porém o noivo não sabia disso.
Achava que era só uma briga de casal, até ela não voltar no dia seguinte e a
família não saber mais da localização de Débora.
- Os policiais
encontraram no celular alguns vídeos que os dois gravaram. Nada demais. Não
parecia um casal de apaixonados, sabe? Eram mais brigas.
Vídeos que nunca saíram
de sua cabeça. Será que Débora o deixara de amar? Se o noivado estava ruim, por
que preferiu sair com um cara que mal conhecia? As vezes conseguia esquecer de
todas as perguntas e só desejar para que ela soubesse que ele a amaria para
sempre.
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